sábado, 14 de janeiro de 2012

Fluoxetina, meu jeito de viver!


Todo dia, eu tomo trinta e cinco miligramas de Fluoxetina. Também tenho remédios pra dormir e pra ansiedade. Junto com a medicação, eu faço sessões de terapia com uma psicóloga, o que é essencial pra minha melhora. Na terapia eu digo o que quero e o que penso, eu choro mágoas que ninguém nem imagina que eu tenho. Muitas vezes, acordo de dia perguntando por que estou acordando e eu tomo Fluoxetina... babou, a pergunta some da mente, HAUHUAHUHAUHAU. Outro aspecto que faz eu ficar  melhor é conhecer pessoas com problemas muito mais sérios que os meus e que continuam de pé e aprender com elas a superar a sensação de perda.

Mands Gama
14 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Alforrie-me



                Juro que tentei, tentei com todas as minhas forças e acho que estou libertando-me. Sempre achei que eu poderia gostar e desgostar de alguém quando eu quisesse, até conhecê-lo. Confesso que não senti diferença assim que nos conhecemos, mas foi um pouco depois. Quando eu percebi, ele já estava ali, quieto, mas sua quietude tinha uma razão, ele estava arraigado em mim. Por noites e mais noites eu tentei enterrá-lo em mim mesma, mas por incrível que pareça eu não conseguia e cada dia que passava ficava mais difícil a sua ablação. Eu pegava-me chorando por desespero, medo dele ficar ali pra sempre. Foi-se passando dias, e ficava cada vez mais difícil à localidade de onde ele já se encontrava, ficava mais difícil chegar até lá, por que ele estava em um local que eu não frequentava há muito tempo. Então, resolvi deixa-lo lá, e eu acreditava que ele sairia por livre e espontânea vontade, mas não foi o que ocorreu.
                Quando tentei ir lá, encontrei três pessoas: uma disse pra eu não ir lá, que não era seguro enfrentar ele, que eu poderia me machucar e era melhor ficar com a dor que eu já sentia do que aumenta-la. A outra disse pra eu ir e quando eu chegasse lá era para eu alimentá-lo, que não era para eu tirá-lo de lá, mas só para ver se tudo estava bem. Já a última pessoa que eu encontrei, disse pra eu ir e quando eu chegasse lá, não era pra eu pedir pra ele ir embora, mas sim, ordenar, pois aquele espaço era meu e eu abrigava ali quem eu bem quisesse e que ele não era mais bem-vindo como antigamente. Confesso que fiquei confusa e chegando ao meio do caminho encontrei uma pessoa mais velha, nós sentamos e conversamos horas e ela me disse que eu só deveria ir lá naquele dia, se eu tivesse forças para ir lá, por que se eu não tivesse não adiantaria. Eu me pus a chorar, ela olhou pra mim e disse que aquelas lágrimas eram dizendo que eu não tinha forças, que só era pra eu ir quando eu não chorasse mais. E mesmo assim tentei ir, tentei ir contra as minhas forças e quando cheguei onde ele estava, o vi preso, acorrentado e com raiva e sem pensar duas vezes eu fugi, eu não tive forças pra ficar lá, eu não conseguia olhar em seus olhos sem chorar e corri, corri o mais rápido possível, pois eu tinha a sensação que ele iria se soltar e correr atrás de mim. Chegando ao meio do caminho encontrei aquela velha pessoa, ela olhou pra mim e falou: “falei que você não tinha forças”. Senti-me pequena e fraca. Andando mais um pouco encontrei as outras pessoas e elas tinham apostado o que eu faria, todas perderam...
                Mais tempo foi-se passando e aquela situação ficava pior e com a última ida lá eu havia aprendido muita coisa. Acordei um dia com esperança que tudo ficaria bem, acordei forte e acreditando em tudo que o meu pai me dizia. Peguei tudo que eu tinha que pegar e fui onde ele estava. Nada poderia me parar, nada poderia me fazer desistir, por aquele era o MEU DIA, era o MEU MOMENTO e ninguém roubaria aquilo de mim. Encontrei aquelas três pessoas de novo: a primeira como sempre disse pra eu não ir, a segunda falou que era pra deixa-lo lá, por que apesar de tudo ele me fazia bem, a terceira olhou pra mim e não disse nada, ficou calada. Quando dei thau, a terceira pessoa gritou: “ei, leve isso consigo”, era um isqueiro, nem entendi qual era o propósito, mas deixei-o no bolso. Andando mais um pouco, encontrei uma placa dizendo a seguinte frase: “Siga em frente”, eu não encontrei aquela velha pessoa, mas eu senti que aquela placa foi posta por ela. Andei, andei no escuro, andei em um caminho cheio de espinho e passei por um dos meus maiores medos, era uma ponte com um lago bem abaixo e quando aprovei sua água era salgada como a água do mar e fiquei pensativa e bem curiosa em saber o que era aquilo e andando mais um pouco vi uma placa e nela estava escrita: “poço de lágrimas”.
                Continuei meu caminho e me dei de cara com a cena mais horrível que já vira: era sangue pra todos os lados, eram cicatrizes e machucados e tinha uma ferida em carne viva e que na hora que vi senti doer. Até que eu o vi todo sujo de sangue, e ao seu redor tinha muitas coisas, tinha papéis muitos papéis, tinha CD e tinha um computador. Ele estava acocado, quieto e olhou pra mim. Confesso que minhas pernas tremeram, não sei se foi de medo, mas tremeram e ele soltou um grito: “me tira daqui, não posso te machucar mais”, cheguei mais perto e tinha um cadeado que o prendia, perguntei onde se encontrava a chave e ele falou que se encontrava comigo, que sempre se encontrou comigo, achei esquisito e falei que não tinha chave nenhuma e ele olhou para minha mão e disse: “é essa aqui que você está na mão”, mas como aquela chave foi parar ali eu perguntei-o, ele disse que aquela chave estava no poder das minhas mãos e o que ativava ela era a minha força, peguei a chave e o libertei e antes de sair ele disse: “esse isqueiro, é pra você queimar essas coisas” e ele saiu... Acendi o isqueiro e ali queimei tudo, admito que foi difícil, mas queimei e voltei. Chegando à ponte percebi que o lago estava seco. Mais à frente encontrei aquelas três pessoas, a primeira estava normal apreensiva e parecia que estava surpresa, a segunda estava emburrada, já a terceira estava com um sorriso no rosto, ela olhou pra mim e perguntou-me: “serviu o isqueiro?” e respondi: “sim.”
                Todas às vezes eu lutei, eu nunca desisti, confesso que já pensei muitas vezes e até tentei, mas desistir é uma palavra que não está no meu dicionário.
                Concluí que a primeira pessoa que eu encontrei era o medo, o medo em que nos faz perder oportunidades, que nos faz ficar omissos mesmo quando algo nos machuca. A segunda pessoa era a saudade, que muitas vezes nos prende em lembranças que nos fazem mal e que nos traz a ilusão que aquilo é bom, sendo que é totalmente ao contrário. A terceira era o amor, percebi que o amor só quer o nosso bem, se dizemos amar alguém e não nos sentimentos completamente felizes, aquilo não é amor. A pessoa mais velha era a sabedoria, que sempre nos dar o melhor caminho, que sempre nos dar a melhor solução, que diz as coisas na hora certa, só que fazemos quando estamos preparados. E quem era ele? Ele era um sentimento que até hoje eu não sei bem dizer o que é e ele não está mais preso, mas também ainda não saiu completamente, ele ainda estar a vagar por aqui. Ah, e o local onde ocorreu isso tudo? O bom e velho coração. E no fim disso tudo descobri que libertei eu e ele.

Mands Gama
03 de Janeiro de 2012