domingo, 7 de outubro de 2012

Traição em Dobro!




 Sempre fui um rapaz carismático, onde minha simpatia fazia com que grandes mulheres se apaixonassem por mim e eu como um garanhão de primeira pegava todas e largava dias depois sem ressentimento algum. – é, tinha aprendido com o meu pai, meu grande ídolo o Sr. Igor*, onde me ensinou que qualidade e quantidade tinha que andar juntas e segui o seu conselho sempre arrisca –. Não me recordo de ter me apaixonado de verdade, lembro apenas de algumas mulheres em que eu tinha um carinho especial: minha mãe já bem idosa e minha irmã gordinha e feinha. Elas sempre questionavam o meu jeito de tratar as mulheres, de levar toda semana uma diferente e eu não me importava com cor ou raça, apenas se tinha uma beleza especial, então, minha agenda de celular era como um cardápio de restaurante francês tinha de tudo, mas uma coisa não poderia faltar: a beleza do prato. Alguns amigos discutiam o meu jeito de ser, principalmente o Matheus*, um cara certinho e sem graça que dizia que um dia eu ainda iria me apaixonar e iria pagar por tudo que eu já tinha feito com loiras, morenas ou ruivas... Mas já sabia que a mulher capaz de fazer apaixonar-me não estava por perto, se estivesse já teria encontrado. Mas eu tinha o meu companheiro de aventuras era o Antônio*, ele também tinha um jeito especial com as mulheres, mas não era tão bom como eu.
Minha mãe já aborrecida e preocupada com medo de eu engravidar alguma ou pegar uma doença, resolveu mandar-me para Brasília, para morar com uma tinha minha que era dona de uma rede de bares. Não me contentei com a ideia, mas depois pensando bem iria pegar algumas brasilienses, beberia de graça e teria mais uma aventura e fui. Morei em Brasília por quatro anos, estudei rede e trabalhei. Não aguentava mais de saudades e resolvi voltar. A recepção foi bem calorosa, lá estava meus pais no aeroporto e minha mãe não segurou o choro. Cheguei em casa e senti falta de todos os meus amigos, das aventuras e resolvi ligar, mas minha irmã interrompeu-me com uma notícia:
- Antônio está noivo!
Nem acreditei na hora. Não me conformei em saber que meu companheiro de galinhagem de infância, adolescência e juventude iria se casar e me deixar sozinho, nessa dura batalha de escolher mulheres, rs. Fui a casa dele e dei aquele abraço forte e disse:
- Como assim você vai se casar?
- Pois é, encontrei minha cara metade. Você vai adorar ela.
- Que cara metade... Larga disso.
- Relaxa você ainda encontrará a sua e quero você de padrinho no altar.
Marcamos de encontrarmos nós três, para conhecê-la. Cheguei ao restaurante e o avistei numa mesa, ele disse que ela iria se atrasar um pouco e ficamos conversando:
- Está apaixonado mesmo?
- Estou ela é tudo pra mim.
- Que munitinho (deboche).
- Olha ela aí...
Olhei e avistei uma das mulheres mais lindas que eu já vira. Tão linda que me lembrei de uma música do RPM: “então de repente ele (a) chega arrebatador, são dois olhos verdes e um sorriso avassalador.” E além de linda era simpaticíssima e agora eu entendia porque o Antônio tinha se apaixonado, acho que seria impossível não se apaixonar, não pera... O que eu estava pensando naquele momento? Ela era quase esposa do meu melhor amigo, eu era sujo com as mulheres, mas não com os meus amigos.
Passaram-se dias e nos encontramos de novo para eles me falarem sobre a festa de noivado que eles iriam fazer e ao lado dela eu me sentia soar, ter calafrios, pernas tremerem... Eu não sabia exatamente o que era aquilo, pensei que era uma gripe querendo me pegar e falei ao Antônio que não estava me sentindo bem e que precisava voltar pra casa. Às vezes eu a via me encarando e aquilo piorava todos os meus sintomas e fui pra casa, mas percebi que ao sair do lado dela tudo se acalmava novamente. No outro dia eu lendo meus e-mails escutei o telefone tocar e atendi.
- Oi, Guilherme*? Sou eu a Ana* noiva do Antônio, lembra?
Naquela hora meu coração disparou e fiquei me perguntando o porquê da ligação.
- Claro, ocorreu algo?
- Não... É que eu vou me casar com o seu melhor amigo, né, e eu gostaria de conhece-lhe melhor!
- Claro.
Marcamos um encontro.
Eu nunca tinha ficado nervoso para um encontro, mas era justamente o jeito em que eu estava. Ficamos conversando por horas e às vezes me perdia olhando seus lábios, o desejo de beijá-los era enorme, mas me segurei e eu me sentia desrespeitando o Antônio por tal pensamento. Até que ela me falou que se lembrava de mim, que já tínhamos estudados juntos na 8º ano do Ensino Fundamental e vagarosamente fui lembrando-se dela:
- Você era a menina que cantou Ana Júlia no festival escolar?
- Sim, rs. Cantei horrível.
- Nem cantou, mas mesmo assim Los Hermanos fica bom em qualquer voz.
- Verdade. Eu adoro o Camelo e claro a Mallu também. Curte?
- A Mallu nem tanto, mas tenho um amigo que é fã, descobriu que era gay um tempo desses.
E começamos a rir e ali e rolou um beijo.
Cada dia que se passava eu me apaixonava mais, nos víamos quase todos os dias. Ela sempre arranjava um jeito de driblar o Antônio. Só que a culpa me consumia e resolvi desabafar-me com o Luiz*, um amigo nosso que é meio louco nas ideias, tão louco que é fã do Galvão Bueno e que só conseguira emprego de cabo-man e claro era especialista em casos de amor:
- Eu estou apaixonado e tendo um caso com a noiva do Antônio!
Luiz como era um cara não muito sensato e agia pela emoção deu a ideia de fugirmos já que éramos tão apaixonados. Comentei com a Ana sobre ela terminar o noivado, achei que a ideia de fugir não cairia bem, mas ela não se agradou com a ideia, falou que o pai jamais aceitaria e a menosprezaria para sempre, já que era um caretão – era até mesmo em seu corte de cabelo –. Semana que vem era o casamento e ela me tinha prometido que iria resolver tudo, mas acho que pra ela foi só uma despedida de solteiro. Acho que o que o Matheus* me disse há anos atrás está ocorrendo hoje.
O telefone toca e era ela:
- Ana?! O que houve?
- Olha, nunca mais, não ligue mais é melhor assim.
Não era bem o que eu queria ouvir:
- Saia da minha vida, nossa relacionamento é uma loucura, um absurdo.
Não sabia bem o que fazer depois de ela ter me dito tudo isso, não sabia se eu chorava por tê-la perdido ou por estar traindo a confiança do Antônio. Resolvi ir embora para o litoral do Ceará e talvez abrir um negócio a beira mar e sabia que ali seria a última vez que escutaria sua voz ou a veria. Ela soube que eu fui embora e mais uma vez ela me ligou, por não atendê-la dias depois ela estava em Fortaleza, me procurou com uma voz suave quase que o formal:
- Olha, não é bem assim, não necessariamente o fim, do nosso relacionamento tão bonito e casual.
Fiquei anestesiado por uns segundos e raciocinei ali que de repente as coisas mudam de lugar e quem pensou que perdeu pode ganhar. Eu não conseguia falar nada, era como se minhas cordas vocais estivessem ordenadas a não funcionarem, nem ela conseguia mais falar só sentia que havia um teor de medo e sofrimento em seu olhar, como se ela tivesse pisado em espinhos para estar ali, na minha frente, compartilhando inúmeros sentimentos. E o teu silêncio preso na minha garganta e o medo da verdade e resolvi quebrar o silêncio:
- Eu sei que eu... Eu queria estar contigo, mas sei que não é permitido. Eu fico pensando se nós tivéssemos fugido e ouvido a voz desse desconhecido... O amor.
- Guilherme, eu não vim ao Ceará atoa. Eu tive um sonho: Eu estava em um precipício e uma voz que chegava e sussurrava devagar pra perturbar pra enlouquecer, dizendo pra eu pular de olhos fechados. A voz chegava debochar do meu pavor, mas ao pular eu me via criar asas e voar.  E percebi que o amor é assim, às vezes a gente se joga e não criamos asas e nos esborrachamos no chão, mas às vezes pulamos e podemos voar junto com o amor, então, porque não arriscar? Eu larguei tudo no Rio de Janeiro e vim atrás de você aqui, porque eu te amo. Não sei como vai ficar a situação com o Antônio, mas daremos um jeito e sei que ele vai entender.
É... E quem achou que tinha perdido pode ganhar. Só que a minha culpa em ter traído o Antônio e não ter sido homem o suficiente para contar pra ele, não deixou abraça-la naquele instante e simplesmente olhei pra ela e fechei a porta. Eu sei quão grande foi o sacrifício que ela fez por mim, mas o meu medo de amar falou mais alto. Fui dormir com o coração apertado e hoje dia 06 de Outubro de 2012 acordei espantado, eu tivera o mesmo sonho que ela e fiz algo que eu sei que nunca vou me arrepender peguei o celular e liguei:
- Minha amiga, minha namorada, quando é que eu posso te encontrar?

(:

[*] Nomes Fictícios

História fictícia, em caso de parecer com uma história real é apenas mera coincidência. 

Mands Gama


História inspirada em "Dois" - Paulo Ricardo