Sempre fui
um rapaz carismático, onde minha simpatia fazia com que grandes mulheres se
apaixonassem por mim e eu como um garanhão de primeira pegava todas e largava
dias depois sem ressentimento algum. – é, tinha aprendido com o meu pai, meu
grande ídolo o Sr. Igor*, onde me ensinou que qualidade e quantidade tinha que
andar juntas e segui o seu conselho sempre arrisca –. Não me recordo de ter me
apaixonado de verdade, lembro apenas de algumas mulheres em que eu tinha um
carinho especial: minha mãe já bem idosa e minha irmã gordinha e feinha. Elas
sempre questionavam o meu jeito de tratar as mulheres, de levar toda semana uma
diferente e eu não me importava com cor ou raça, apenas se tinha uma beleza
especial, então, minha agenda de celular era como um cardápio de restaurante
francês tinha de tudo, mas uma coisa não poderia faltar: a beleza do prato. Alguns
amigos discutiam o meu jeito de ser, principalmente o Matheus*, um cara certinho
e sem graça que dizia que um dia eu ainda iria me apaixonar e iria pagar por
tudo que eu já tinha feito com loiras, morenas ou ruivas... Mas já sabia que a
mulher capaz de fazer apaixonar-me não estava por perto, se estivesse já teria
encontrado. Mas eu tinha o meu companheiro de aventuras era o Antônio*, ele
também tinha um jeito especial com as mulheres, mas não era tão bom como eu.
Minha mãe
já aborrecida e preocupada com medo de eu engravidar alguma ou pegar uma
doença, resolveu mandar-me para Brasília, para morar com uma tinha minha que
era dona de uma rede de bares. Não me contentei com a ideia, mas depois
pensando bem iria pegar algumas brasilienses, beberia de graça e teria mais uma
aventura e fui. Morei em Brasília por quatro anos, estudei rede e trabalhei.
Não aguentava mais de saudades e resolvi voltar. A recepção foi bem calorosa,
lá estava meus pais no aeroporto e minha mãe não segurou o choro. Cheguei em
casa e senti falta de todos os meus amigos, das aventuras e resolvi ligar, mas
minha irmã interrompeu-me com uma notícia:
- Antônio está
noivo!
Nem
acreditei na hora. Não me conformei em saber que meu companheiro de galinhagem
de infância, adolescência e juventude iria se casar e me deixar sozinho, nessa
dura batalha de escolher mulheres, rs. Fui a casa dele e dei aquele abraço
forte e disse:
- Como
assim você vai se casar?
- Pois é,
encontrei minha cara metade. Você vai adorar ela.
- Que cara
metade... Larga disso.
- Relaxa
você ainda encontrará a sua e quero você de padrinho no altar.
Marcamos
de encontrarmos nós três, para conhecê-la. Cheguei ao restaurante e o avistei
numa mesa, ele disse que ela iria se atrasar um pouco e ficamos conversando:
- Está apaixonado
mesmo?
- Estou
ela é tudo pra mim.
- Que
munitinho (deboche).
- Olha ela
aí...
Olhei e
avistei uma das mulheres mais lindas que eu já vira. Tão linda que me lembrei
de uma música do RPM: “então de repente ele (a) chega arrebatador, são dois
olhos verdes e um sorriso avassalador.” E além de linda era simpaticíssima e
agora eu entendia porque o Antônio tinha se apaixonado, acho que seria
impossível não se apaixonar, não pera... O que eu estava pensando naquele
momento? Ela era quase esposa do meu melhor amigo, eu era sujo com as mulheres,
mas não com os meus amigos.
Passaram-se
dias e nos encontramos de novo para eles me falarem sobre a festa de noivado
que eles iriam fazer e ao lado dela eu me sentia soar, ter calafrios, pernas
tremerem... Eu não sabia exatamente o que era aquilo, pensei que era uma gripe
querendo me pegar e falei ao Antônio que não estava me sentindo bem e que
precisava voltar pra casa. Às vezes eu a via me encarando e aquilo piorava
todos os meus sintomas e fui pra casa, mas percebi que ao sair do lado dela
tudo se acalmava novamente. No outro dia eu lendo meus e-mails escutei o
telefone tocar e atendi.
- Oi,
Guilherme*? Sou eu a Ana* noiva do Antônio, lembra?
Naquela
hora meu coração disparou e fiquei me perguntando o porquê da ligação.
- Claro,
ocorreu algo?
- Não... É
que eu vou me casar com o seu melhor amigo, né, e eu gostaria de conhece-lhe
melhor!
- Claro.
Marcamos
um encontro.
Eu nunca
tinha ficado nervoso para um encontro, mas era justamente o jeito em que eu
estava. Ficamos conversando por horas e às vezes me perdia olhando seus lábios,
o desejo de beijá-los era enorme, mas me segurei e eu me sentia desrespeitando
o Antônio por tal pensamento. Até que ela me falou que se lembrava de mim, que
já tínhamos estudados juntos na 8º ano do Ensino Fundamental e vagarosamente
fui lembrando-se dela:
- Você era
a menina que cantou Ana Júlia no festival escolar?
- Sim, rs.
Cantei horrível.
- Nem
cantou, mas mesmo assim Los Hermanos fica bom em qualquer voz.
- Verdade.
Eu adoro o Camelo e claro a Mallu também. Curte?
- A Mallu
nem tanto, mas tenho um amigo que é fã, descobriu que era gay um tempo desses.
E
começamos a rir e ali e rolou um beijo.
Cada dia
que se passava eu me apaixonava mais, nos víamos quase todos os dias. Ela
sempre arranjava um jeito de driblar o Antônio. Só que a culpa me consumia e
resolvi desabafar-me com o Luiz*, um amigo nosso que é meio louco nas ideias,
tão louco que é fã do Galvão Bueno e que só conseguira emprego de cabo-man e claro
era especialista em casos de amor:
- Eu estou
apaixonado e tendo um caso com a noiva do Antônio!
Luiz como
era um cara não muito sensato e agia pela emoção deu a ideia de fugirmos já que
éramos tão apaixonados. Comentei com a Ana sobre ela terminar o noivado, achei
que a ideia de fugir não cairia bem, mas ela não se agradou com a ideia, falou
que o pai jamais aceitaria e a menosprezaria para sempre, já que era um caretão
– era até mesmo em seu corte de cabelo –. Semana que vem era o casamento e ela
me tinha prometido que iria resolver tudo, mas acho que pra ela foi só uma
despedida de solteiro. Acho que o que o Matheus* me disse há anos atrás está
ocorrendo hoje.
O telefone
toca e era ela:
- Ana?! O
que houve?
- Olha,
nunca mais, não ligue mais é melhor assim.
Não era
bem o que eu queria ouvir:
- Saia da
minha vida, nossa relacionamento é uma loucura, um absurdo.
Não sabia
bem o que fazer depois de ela ter me dito tudo isso, não sabia se eu chorava
por tê-la perdido ou por estar traindo a confiança do Antônio. Resolvi ir
embora para o litoral do Ceará e talvez abrir um negócio a beira mar e sabia que
ali seria a última vez que escutaria sua voz ou a veria. Ela soube que eu fui
embora e mais uma vez ela me ligou, por não atendê-la dias depois ela estava em
Fortaleza, me procurou com uma voz suave quase que o formal:
- Olha,
não é bem assim, não necessariamente o fim, do nosso relacionamento tão bonito
e casual.
Fiquei
anestesiado por uns segundos e raciocinei ali que de repente as coisas mudam de
lugar e quem pensou que perdeu pode ganhar. Eu não conseguia falar nada, era
como se minhas cordas vocais estivessem ordenadas a não funcionarem, nem ela
conseguia mais falar só sentia que havia um teor de medo e sofrimento em seu
olhar, como se ela tivesse pisado em espinhos para estar ali, na minha frente,
compartilhando inúmeros sentimentos. E o teu silêncio preso na minha garganta e
o medo da verdade e resolvi quebrar o silêncio:
- Eu sei
que eu... Eu queria estar contigo, mas sei que não é permitido. Eu fico
pensando se nós tivéssemos fugido e ouvido a voz desse desconhecido... O amor.
-
Guilherme, eu não vim ao Ceará atoa. Eu tive um sonho: Eu estava em um
precipício e uma voz que chegava e sussurrava devagar pra perturbar pra
enlouquecer, dizendo pra eu pular de olhos fechados. A voz chegava debochar do
meu pavor, mas ao pular eu me via criar asas e voar. E percebi que o amor é assim, às vezes a
gente se joga e não criamos asas e nos esborrachamos no chão, mas às vezes
pulamos e podemos voar junto com o amor, então, porque não arriscar? Eu larguei
tudo no Rio de Janeiro e vim atrás de você aqui, porque eu te amo. Não sei como
vai ficar a situação com o Antônio, mas daremos um jeito e sei que ele vai entender.
É... E
quem achou que tinha perdido pode ganhar. Só que a minha culpa em ter traído o
Antônio e não ter sido homem o suficiente para contar pra ele, não deixou
abraça-la naquele instante e simplesmente olhei pra ela e fechei a porta. Eu
sei quão grande foi o sacrifício que ela fez por mim, mas o meu medo de amar
falou mais alto. Fui dormir com o coração apertado e hoje dia 06 de Outubro de
2012 acordei espantado, eu tivera o mesmo sonho que ela e fiz algo que eu sei
que nunca vou me arrepender peguei o celular e liguei:
- Minha
amiga, minha namorada, quando é que eu posso te encontrar?
(:
[*] Nomes Fictícios
História fictícia, em caso de
parecer com uma história real é apenas mera coincidência.
Mands Gama
História inspirada em "Dois" - Paulo Ricardo