Hoje eu despertei com o fulgor
do sol incomodando os meus olhos, tentei suavizar escondendo-os com a mão, mas
não deu muito certo. Levantei e fui fechar a cortina. Olhei para cama e vi-o:
dormindo cingido em meus lençóis. O impressionante é que eu não me recordava
que ele estava ali, ao meu lado, parecia que tudo o que rolou na noite incidida
não passara de um bom sonho. Voltei à cama, enrolei-me ao lençol e aos seus
braços e esperei-o acordar. Dei um selinho em sua boca e sem querer acordei-o e
pude ver um luminoso sorriso em seu semblante. Não me hesitei e disse:
- Seu sorriso é tão natural
como a luz do dia!
Olhei o relógio e percebi que
já estava tarde e que a nossa rotina estava nos chamando. Perguntei-o:
- Não vai sair hoje?
- Não.
- Por quê? Deixa de ser
preguiçoso!
- E te falar... Mas que
preguiça boa, me deixe aqui atoa.
- Tem certeza?
- Sim, hoje ninguém vai
estragar meu dia. Então, não estou a fim de ausentar-me desse quarto.
Dei um sorriso no canto da
boca, meu jeito árduo de ser, aquele jeito em que achamos que o melhor é não
demonstrar emoções, fez-me agir como se eu não me importasse.
- E você, vai?
Na hora nem escutei-o, viajei
no tempo lembrando de tudo o que nós passamos e que hoje encontrávamos ali,
planejando passar o dia juntos, que coisa alguma e nem ninguém estragaria, como
vieram estragando.
- Ei, estou falando com você.
- Oi, desculpa... Viajei longe
aqui.
- É... Percebi! Então, e você
vai sair hoje?
- Não quero, por mim só vou
gastar energia pra beijar sua boca.
Ele sorriu e disse:
- Resolvido. Fica comigo
então, não me abandona não.
Mas eu não iria ficar, tinha um
encontro com uns amigos do trabalho. Ele me conhece, sabe que sou responsável e
que não desmarcaria com eles.
- Eu tenho que ir, mas daqui
umas horas eu volto e você pode vir aqui de novo se desejar.
- Não vou voltar, pois vou te
esperar aqui apesar de você está me deixando pra ficar com pessoas
desconhecidas.
- Não são desconhecidas, são
meus amigos do trabalho.
- Se você diz... Estou vendo
que algo em você não muda, continua pensando e imaginando que todos são seus
amigos.
Fui com o coração apertado e ter
que deixa-lo ali, mas eu sabia que ele me esperaria eu esperei-o por tanto
tempo, porque ele não poderia me esperar por algumas horas? Confesso que nem me
diverti, fui apenas para ele saber que meu mundo não girava em torno do dele. Meu
corpo estava em um lugar, mas minha mente estava no meu quarto com ele. Deu a
hora de ir pra casa, estava tão feliz que parecia que o Flamengo tinha acabado
de ganhar um Mundial de Clubes, cheguei em casa e chamei-o:
- Cheguei. Cadê você? Foi
embora?
Ele não me respondeu, então,
deduzi que ele não me esperou e logo veio um nó na garganta e que talvez eu
tivesse o perdido por puro orgulho e por medo de demonstrar meus sentimentos.
Fui em direção ao quarto e escutei barulho de chuveiro, é... ele me esperou.
Ele saiu do banho e num tom irônico perguntou:
- E aí, alguém te perguntou
como é que foi seu dia?
Respondi num tom de “bem que
você me avisou”:
- Não. Não escutei uma palavra
amiga, uma notícia boa...
Ele respondeu num tom de “eu
avisei”:
- Acredito que isso faz falta
no dia-a-dia!
- Mas prefiro que não me
pergunte, a gente nunca sabe quem são essas pessoas.
Fui à cozinha e percebi que
ele tinha feito um belo banquete: MIOJO. Fomos comer e tudo o que vivemos veio
à tona.
- Até hoje eu não entendo
porque não demos certo aquele tempo.
- Talvez porque ainda não era
nossa hora.
- Poderia não ser, mas talvez
se você tivesse se esforçado teria sido.
- Eu só queria te lembrar que
aquele tempo eu não podia fazer mais por nós, eu estava errado e você não tem
que me perdoar.
- Eu sei disso... Tanto que
nunca tinha te cobrado antes.
- Mas também quero te mostrar
que existe um lado bom nessa história.
- Qual?
- Tudo o que ainda temos a
compartilhar e viver e cantar, não importa qual seja o dia.
- É... Vamos viver, vadiar, o
que importa é nossa alegria!
Mands Gama
20 de Agosto de 2012
Mands Gama
20 de Agosto de 2012
Adaptação: Céu Azul - CBJR