quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ele, Brasília & Eu


                Com o passar dos dias, ficava cada vez mais apreensiva para sua chegada, na verdade eu não compreendia o porquê, só sabia que ao pensar nele ao meu lado meus ossos estremeciam e me dava calafrios na barriga. Conversa vai e conversa vem, tanto por telefone como em redes sociais e já podia ver meus olhos brilhando quando eu o visse carregando malas e vindo ao encontro de um abraço meu. Até que chegara o dia de encontra-lo, não consegui dormir, fiquei sentada na calçada de casa vendo a lua e contando as estrelas – sei que dizem que cria verrugas, mas no momento não era minha preocupação – olhei o relógio e sabia que ele tinha acabado de pegar o voo, coração saltitava, parecia que queria sair pela boca, por que meu corpo era pequeno pra tanta alegria.
                Olhava no relógio e só havia se passado três minutos e sete – oito – nove – dez segundos. Não podia ser, a menos que o relógio – não, o tempo! – tivesse parado naquele momento, simplesmente esquecido de passar. Vi o céu alaranjado, Brasília ansiosamente aguardava a chegada do sol e eu aguardava a sua, e finalmente chagara a hora de me arrumar para ir busca-lo. Apreensiva, fui correndo tomar banho, arrumei meu cabelo e saí de casa. Quando cheguei à esquina, tinha percebido que havia esquecido o guarda-chuva – não se fazia um dia muito bonito, estava trovejando e o céu todo nublado – tive que voltar em casa, peguei o guarda-chuva e sai novamente. Chegando à parada de ônibus esperei apenas 3 minutos – finalmente parecia que a sorte estava ao nosso lado, afinal, ônibus aqui é complicado – no caminho namorava a arte Bauhaus de Brasília, conseguia ver o concreto e a natureza em sintonia, coisas diferentes, mas que se completavam e esperava que conosco ocorresse o mesmo.
                Cheguei ao aeroporto, sentei em uma cadeira perto da área de desembarque e de tanto nervosismo não conseguia parar de mexer as pernas e nem de parar de morder a boca, mais do que nunca eu sentia uma mistura de sentimentos: amor, nervosismo, vergonha, medo e acima de tudo alegria, uma sensação que eu nunca havia sentindo antes. E vi, e vi-o de longe, com um olhar meio perdido e sabia que o seu olhar procurava o meu, e mesmo assim, fiquei lhe admirando um pouco mais, admirando que eu era o que ele procurava, enxuguei os olhos – é, eu estava chorando, talvez de emoção, sei lá... E não queria que ele me visse assim – e fui ao seu encontro, parei diante dele e eu não sabia o que fazer e acho que nem ele. Ficamos nos olhando por alguns segundos e foram os segundos mais mágicos da minha vida, e não resisti, o abracei, e parecia que minha boca já sabia o caminho da sua, o beijei sem mesmo saber o que eu estava fazendo, e pude ver o sorriso saindo de seus lábios, fiquei sem graça, achei que ele tinha me achado atirada demais, mas na verdade ele não riu por isso... Saindo do aeroporto minha meta era o fazer conhecer Brasília, conhecer quem me acolheu nesses meus 18 anos de vida e que me deu amor e carinho do seu jeito, parecia que Brasília estava tão feliz quanto eu por ele estar ali, parecia que ela tinha limpado o céu com as mãos e posto o sol no seu devido lugar, apresentei-o para o Plano Piloto e percebi que a amizade dele com Brasília não foi de cara, tive que me sentir satisfeita.
                Ele não era um cara muito religioso, mas queria conhecer primeiramente a Catedral, nós fomos e contei que a Catedral é o desenho das mãos de uma pessoa orando para Deus, e ele soltou: ou são nossas mãos juntas ao meio do cerrado. Não foi muito romântico, mas ri e com o coração derretido. Apresentei-o ao Congresso Nacional e a Praça dos Três Poderes, subindo de volta à rodoviária ele viu o Museu Nacional e se encantou, na verdade eu nem sei o porquê, talvez por que era simples e ao mesmo tempo complexo, igualmente ele. Nem fomos para casa, o tempo era curto, mas independente do lugar a intenção era aproveitarmos um ao outro. Fomos ao Pontão do Lago Sul, apresentei-o ao lago e o belo pôr-do-sol no céu do Cerrado, ele achou lindo e conseguia ver em seus olhos que ele sentia agradecido por estar ali, comigo e com Brasília.
                Ao contrário do início do dia, as horas passavam rapidamente – horas viravam minutos e minutos viravam segundos – era uma tortura, cada abraço, cada beijo parecia ser o último e era aproveitado de uma forma sem igual, um melhor do que outro. Quando ele tinha que partir, fiz questão de passarmos pela Esplanada novamente, ver Brasília e suas luzes que fulge o caminho de muita gente, e no meio da Esplanada, naquela grama verde fechei os olhos e pude escutar Brasília dizer para ele: desculpa se eu não te dou tudo o que você deseja. Desculpada”, eu escutei baixinho vindo da boca dele. Senti ali que Brasília amava nós dois, e ele amava nós duas. Na hora do adeus, não resisti, chorei e ele viu. Com os olhos também marejados ele olhou pra mim, segurou minha nuca e disse que voltaria, olhei para ele e confiei em sua palavra, ele me deu o último beijo do dia, talvez da semana, do mês, do ano ou até talvez da vida, não se sabe, eu só sei que foi apenas um dia, mas foi o dia mais feliz da minha vida! Voltei para a casa com um olhar triste e Brasília logo percebeu e chorou junto comigo – o tempo fechou e começou a chover – ela me conhece, sabe das minhas dores e das minhas alegrias.
                Cheguei em casa e logo adormeci. Acordei com ele me ligando e perguntando se tudo estava bem, falei que sim e que tinha tido um sonho estranho com ele, e ele me perguntou estranho até que ponto, e falei que até o ponto de me sentir feliz por saber que ele existe.

08 de Dezembro de 2011
Mands Gama

4 comentários:

  1. História da minha vida escrita por outras mãos... Chorei.

    ResponderExcluir
  2. será a história da minha tb??
    ai Deus! chorei aqui Amandinha!
    obrigada por compartilhar comigo tão linda leitura!!

    ResponderExcluir
  3. Será a sua também, mas a sua terá um final totalmente diferente. :)))

    ResponderExcluir